Fábulas de La Fontaine
O Leão e o Mosquito
«Vai-te, insecto mesquinho e vil na terra!»
Depois de assim ter dito
O leão ao mosquito,
Este lhe declarou cruenta guerra:
«Pensas tu que por seres rei dos bichos
Tua audácia tolero?
Mais força tem um boi e, quando quero,
Sujeito-o a meus caprichos!»
Diz, e toca a avançar;
Foi o Heroi e o trombeta na batalha.
Zumbe em torno ao leão, tanto o atrapalha,
Que o faz desesperar.
Ao longe põe-se um pouco;
Depois, salta-lhe em cima do enchaço
E torna-o quase louco.
A fera co rugido atroa o espaço.
De houvir o Horrendo grito
Seus ecos prolongar atroadores,
Tremem os animais dos arredores;
Tudo obra de um mosquito!
O insecto pequenino, ousado e pronto,
Ora o dorso lhe salta,
Ora as ventas lhe assalta.
A raiva no leão sobe de ponto:
Coa a cauda açoita os flancos,
Com o Olhar de ameaça
E, rugindo duríssimos arrancos,
Com as garras a si se despedaça,
Té que, de fatigado,
Cai, fica estelado!
O insecto do combate sai com glória
A mais alta e completa,
E na mesma trombeta
Em que a avançar tocou, cantou vitória.
Mas, proclamando ao mundo esta façanha
Não vista e desmedida,
Na teia duma aranha
Cai, fica embaraçado e perde a vida!
A fábula vos diz que os inimigos
Nunca deveis considerar somenos;
E que pode o que escapa a grandes p´rigos,
Não poder escapar aos mais pequenos.
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