quinta-feira, 9 de abril de 2009

Fábulas de La Fontaine (O Leão e o Mosquito)


Fábulas de La Fontaine



O Leão e o Mosquito


«Vai-te, insecto mesquinho e vil na terra!»

Depois de assim ter dito

O leão ao mosquito,

Este lhe declarou cruenta guerra:

«Pensas tu que por seres rei dos bichos

Tua audácia tolero?

Mais força tem um boi e, quando quero,

Sujeito-o a meus caprichos!»

Diz, e toca a avançar;

Foi o Heroi e o trombeta na batalha.

Zumbe em torno ao leão, tanto o atrapalha,

Que o faz desesperar.

Ao longe põe-se um pouco;

Depois, salta-lhe em cima do enchaço

E torna-o quase louco.

A fera co rugido atroa o espaço.

De houvir o Horrendo grito

Seus ecos prolongar atroadores,

Tremem os animais dos arredores;

Tudo obra de um mosquito!

O insecto pequenino, ousado e pronto,

Ora o dorso lhe salta,

Ora as ventas lhe assalta.

A raiva no leão sobe de ponto:

Coa a cauda açoita os flancos,

Com o Olhar de ameaça

E, rugindo duríssimos arrancos,

Com as garras a si se despedaça,

Té que, de fatigado,

Cai, fica estelado!

O insecto do combate sai com glória

A mais alta e completa,

E na mesma trombeta

Em que a avançar tocou, cantou vitória.

Mas, proclamando ao mundo esta façanha

Não vista e desmedida,

Na teia duma aranha

Cai, fica embaraçado e perde a vida!

A fábula vos diz que os inimigos

Nunca deveis considerar somenos;

E que pode o que escapa a grandes p´rigos,

Não poder escapar aos mais pequenos.


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